Não te oiço, Não te sinto, Só te leio

Já lá vão quase dois anos ... a notícia veio sorrateira, entorpecida pelas palavras, abafada pela dor insuportável de saber nesse mesmo momento que tudo ia mudar, não ia ser melhor, não ia ser pior, só não ia ser igual. No meu cérebro ficava o desejo de perceber porquê, o porquê de tudo isto, que me causas-te a mim e aos meus .. e no entanto ainda te amamos ... e tanto, ainda te queremos .. e tanto.
Os dias passam, e sim, é verdade, aprendi a viver sem ti. Esqueci a doçura do teu toque, a tua barriga robusta contra o meu corpo frágil, e como era frágil quando estava ao pé de ti... procuro sempre preencher este vazio que me deixas-te e por mais que o encha, transborde e rejeite, cá dentro sabe como se nem uma molécula lá tivesse entrado, mexido, vacilado, como se aquele fosso tivesse ficado para sempre intacto, inatingível, incontornável.
Lembro a tua voz....segura, sábia ... e só no silêncio me lembro do quanto nos gostávamos ... cheguei a questionar esse sentimento, mas como podia?
Ficaram os sonhos adiados, os desabafos perdidos, agora não te oiço, não te sinto só te leio.
Há tanto que não te vejo, não sei como te ver agora, agora não te sei sentir, só sei como te ler...
Tantas batalhas travadas, umas ganhas outras não, e tu ... tu não estavas cá, custou mais a ti ou a mim? A mim que as senti, ou a ti que não nos pudeste ajudar? Impedido de vir, nesse lugar que te mantém.
Aprendi a vencer sem ti, a viver sem ti, a sentir sem ti, no entanto toda eu sou tu. No entanto, toda eu sou tu. Todas as coisas que me mostras-te eu não gostei, absorvi, tornei-as minhas tanto ou mais quanto eram tuas, talvez numa subconsciência de saber que algum dia, naquele dia, tu ias precisar de alguém que as vivesse por ti, porque tu afinal ... estás aí.
Lembro-me do teu sorriso malandro, acho que também o tenho, mas não sei se me lembro de ti. Tento imaginar-te agora, quando te leio pareces-me tão vivo, tão sábio, tão tu. Preciso de te sentir.
Nós e as nossas idas ás Berlengas, ao Musgo na Rocha, à Figueira da Avó, ás Lapas, Atravessar a malhada, os teus Mergulhos, o teu Espírito, a tua Força, a tua Inteligência, a tua Ambição. Reparo nestes dias ... não foram ontem, nem há um mês, nem há um ano, talvez uma década tenha passado. Onde tens andado desde então? porque não te sinto desde aí?
O tempo passou, vivi a minha vida como pude, sem ti. O meu outro pilar dividiu-se em dois e as minhas solas engrossaram, ultimamente não enfraqueço, não caio, não sinto as pedras.
Vivi sem ti, fortaleci na tua ausência, preferia ser de todos a mais fraca se te pudesse ter.
Agora chegou a hora de te voltar a sentir ... e nem sei como ...

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